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A holandesa Li Edelkoort é um dos nomes mais respeitados no mundo da moda. Do escritório da sua empresa, a Trend Union, em Paris, ela coordena uma equipe que pesquisa tendências globais de moda, design, arte e comportamento para gigantes como Coca-Cola, Warner, Gap, Lacoste e L’Oréal, entre muitas outras. Há quatro décadas nesse mercado, já foi eleita um dos 25 nomes mais influentes da moda pela revista “Time” e uma das 40 pessoas mais importantes no design pela “Icon Magazine”.
Viajante constante, essa é a sua quarta visita ao Brasil. Li veio ao SPFW nesta quarta-feira, 2 de abril, autografar seu novo livro, “Bloom Brasil”. Repleta de fotografias e imagens inspiracionais, a publicação serve como referência criativa para designers, estilistas e artistas do mundo inteiro. Em entrevista exclusiva ao FFW, a pesquisadora falou das suas impressões sobre o Brasil, a moda e as tendências que devem aparecer nos próximos anos.
Qual o conceito do livro “Bloom Brasil”?
É ideia é olhar para o Brasil pela perspectiva cultural, pelas coisas orgânicas, pelas raízes regionais. Exploramos o país analisando tendências culturais muito importantes. Acho que dá uma boa ideia do que é o Brasil.
Ronaldo Fraga e Isabela Capeto aparecem no livro. Por que vocês escolheram esses dois estilistas?
Geralmente não mostramos a moda já feita, só damos referências e ideias. Mas nesse caso achamos importante destacar esses dois designers que são tão ligados ao conceito de ser brasileiro.
Como você consegue prever uma tendência dois anos antes dela acontecer?
Desenvolvi uma confiança enorme na minha intuição há bastante tempo. Sempre que não escutava minha intuição eu errava! Então aprendi desde cedo que sempre deveria acreditar no que ela indicasse, mesmo me surpreendendo às vezes. E todo mundo nasce com intuição. Todo mundo às vezes quer encontrar uma peça, como um suéter de lã vermelho, e não acha. E no ano seguinte a peça está em todas as lojas!
Então desenvolvi esse senso de conseguir mergulhar no zeitgeist, que é uma grande camada de pensamento criativo que está por todo o mundo, e tentar entender os sinais e traduzi-los em cores, materiais, formas, comportamentos, etc.
E que tipo de surpresas você teve nos últimos anos?
Por exemplo, teve um momento que eu fiquei no meu escritório e pensei “O que eu vou fazer agora?”. E a palavra que veio na minha cabeça foi “Coberto”. E eu pensei “Coberto? Como assim?”. Na época estava na moda decotes enormes, shorts curtos, pernas de fora. Decidi seguir essa ideia e lançamos uma previsão de tendência dizendo que as pessoas andariam mais cobertas, com mangas mais compridas, calças compridas, meia em cima de meia, máscaras, véus, chapéus, lenços. Vi isso mais ou menos há cinco ou seis anos e foi o que aconteceu e ainda está acontecendo.
E onde você pesquisa? Desfiles, exposições?
Não tem um lugar específico, eu viajo muito e vejo muitas culturas diferentes. Leio bastante, todo tipo de coisa. Acho revistas de moda muito chatas, só leio no avião. Pesquiso na internet, falo com as pessoas. Mas essas ideias não vêm dessa pesquisa, não tem nada a ver com trend watching.
Tem a ver com o quê?
É algo que todos podem desenvolver, como uma antena. Tento estar aberta. Algumas vezes é tão estranho que meu corpo simplesmente sente se eu quero ter um ombro mais marcante ou uma cintura mais baixa. É dessa maneira íntima que sou um instrumento de previsão de tendência.
E como alguém pode desenvolver essa habilidade, se quiser trabalhar com tendências?
O melhor é ir a escolas de moda muito boas e tentar se educar no assunto. Não é um campo muito grande, mas futuramente acredito que todas as empresas precisarão de pesquisadores de tendência.
O que você acha da moda brasileira e dos brasileiros?
Amo esse país, tem uma cultura absolutamente vibrante. Acho que as pessoas não deveriam se inspirar nas coisas de outros países. Meu conselho à cultura do Brasil seria considerar de onde vocês vem. Porque o mundo está se tornando muito global e o próximo passo no mercado mundial é conquistar a América do Sul e a África. Então a indústria e os designers do Brasil deverão expressar o que os motiva intimamente, e não que está acontecendo em outro lugar.
E da arte feita pelos brasileiros, que está se tornando tão famosa com artistas como Adriana Varejão e Beatriz Milhazes?
Acho que a arte brasileira em sua essência ainda é muito intimamente ligada com as raízes da cultura. É por isso que ela é tão importante na cena internacional. Vemos o mesmo na cena da arte na Índia e na África. Todos os artistas que estão tentando traduzir as suas origens se tornam muito populares no mercado mundial.
E é isso que os estilistas deveriam fazer com mais frequência?
Acredito que sim, talvez não agora, mas será um desafio porque se você quer ser global, você tem que se tornar local. Yves Saint Laurent é absolutamente parisiense, Ralph Lauren é completamente americano, Yohji Yamamoto é absolutamente japonês. Então quem tiver raízes, como eles, é capaz de conquistar o mundo. Se você tem uma marca que fica no meio termo, é mais difícil. E sinto que no hemisfério sul ainda existe um deslumbramento com Hollywood, Paris, Milão e eu diria “Bom, eu venho de lá e não é tão bom quanto vocês acham”. Nós gostaríamos de estar aqui!
E você pode me adiantar as tendências que está prevendo para os próximos dois anos?
Sim: mais loucura, mais ousadia. Acho que a moda ficou tão segura que está muito chata. Apesar de ter surgido uma tendência de moda muito importante que se chama “blunt and boring” (estúpido e chato), que já está aparecendo nos Estados Unidos e na Europa e que são as pessoas que não querem nem um pouco estar na moda. Então eles se vestem e você nem os vê.
“Bloom Brasil” está à venda na FFW Shop durante o SPFW por R$ 95. O livro é escrito em português e conta com ensaios, fotografias e textos de nomes como o arquiteto Marcelo Rosenbaum e a jornalista Maiá Mendonça. Após o evento, “Bloom Brasil” poderá ser encontrado em livrarias.